Maniçoba: a famosa feijoada dos paraenses. É composta de maniva e as mesmas carnes utilizadas na feijoada tradicional. O prato está há séculos na mesa da população do Pará. A maniva é o resultado da moagem da folha da mandioca, extremamente tóxica para o consumo se mal cozida. Para retirar totalmente o PH ácido e o tanino presentes na folha, é importante cozinhá-la por sete dias.
E como esse prato de aparência exótica e tão querido dos paraenses surgiu? Existem algumas teorias. Estudiosos afirmam que a maniçoba é fruto das tradições africanas, já que as carnes e embutidos, que também são usados na feijoada, remontam ao passado das senzalas e das comidas rejeitadas pelos senhores brancos da casa grande.
Outras teorias dizem que, na verdade, a origem é indígena. Nesta vertente, a informação é de que os índios tinham o prato como uma espécie de ritual para celebrações, já que a maniçoba leva muitos dias para o preparo.
E há ainda uma terceira contribuição, a contada aqui pelo professor Antônio Comarú, que afirma que o prato é fruto de uma miscigenação de culturas. De acordo com o gastrônomo, o prato tem forte influência dos africanos e dos indígenas, já que ambos os povos utilizavam a folha da mandioca à maneira deles. Mas a forma como o prato é consumido hoje tem origem bem mais recente, proveniente da região nordeste do Pará. A receita está diretamente ligada à história da culinária paraense, agregando às influências dos indígenas e africanos a do povo europeu.
O que se pode ver é que a receita do prato sempre atraiu olhares e vem ganhando força ao longo do tempo, sendo passada de geração em geração, como uma espécie de herança, um componente da história, e ainda, uma grande prova de que as tradições sobrevivem quando mantidas com carinho e afeto. A existência cotidiana da maniçoba é sinal de pertencimento e de orgulho da identidade da Região Norte, em especial do estado do Pará.
No Círio, o prato virou tradição. Há muitos anos a maniçoba deixou de ser apenas um prato típico e passou a fazer parte da identidade paraense, que em todo segundo domingo de Outubro a adotou como estrela do almoço das famílias que se reúnem para celebrar mais um ano de bênçãos.